Reportagem sobre a Casa da Música
Arte de Portas Abertas
Casa da Música
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"Quisemos que todos se sentissem em casa. Quando se começou a falar neste projeto, em 1998, a primeira ideia de nome para esta sala foi ‘Palácio da Música’. Nós não gostámos dessa opção, exatamente porque queríamos um local para todos e o palácio leva-nos a pensar em algo para reis e rainhas. Queríamos mesmo que se chamasse Casa da Música. É um local onde as pessoas habitam, um espaço democrático. O nome traçou, desde o início, o caminho que esta casa queria seguir. Todos são bem-vindos.” António Jorge Pacheco, o Diretor Artístico e de Educação da Casa da Música, viu nascer o edifício e o projeto que se queria capaz de abraçar a cidade e o país. A janela gigante, que deixa ver o Porto, deixa também à vista essa vontade. “Entendemos que a Casa da Música não podia ser um espaço fechado, tinha de ser um espaço de liberdade e de criação e uma resposta a vários tipos de gosto musical.”
Foi idealizada com sonhos mas, também, com missões. “Antes de existir um concurso para o projeto, houve uma equipa que elaborou um caderno de encargos e, nesse momento, especificámos o que deveria ser a Casa da Música em termos artísticos, tendo em atenção o contexto da cidade e nacional, quais as lacunas que existiam no país, etc.” Aliás, António Jorge Pacheco recorda, com o exemplo dessa certeza quanto ao que seria o futuro daquele espaço, o momento em que se decidiu que não haveria fosso de orquestra. “Nós decidimos não incluir esse aspeto na obra porque a cidade do Porto estava já bem equipada com teatros no formato tradicional. O que não tinha era uma sala de concertos. Não quisemos reproduzir as valências que a cidade já tinha. Quisemos dotar a cidade de um espaço com uma acústica excelente.”
À entrada, o grupo de turistas que aguardam o horário da visita ilustra a curiosidade despertada por estas paredes que, juntas, dão lugar a uma forma geométrica por descobrir. “O nosso caderno de encargos foi muito bem entendido pelo arquiteto que ganhou o concurso, o holandês Rem Koolhaas. A própria forma da Casa da Música, multifacetada, acabou por ser uma metáfora daquilo que é a programação desta casa. Aliás, o edifício, sendo esta fantástica peça arquitetónica, desde o início, projetou logo a Casa da Música, mesmo antes de abrir. Só o edifício deu logo uma notoriedade muito grande a este projeto. Mas se isso não fosse correspondido pela qualidade dos programas, tal não funcionaria para sempre. O facto é que, todos os anos, a Casa da Música continua a crescer e isto sem ceder a qualquer espécie de facilitismo”. Reforçam-se os alicerces e segue-se em frente, certos de que, respeitando as pausas para pensar e repensar, afinar e progredir, não há limites quando se trata de criatividade ao serviço das pessoas.
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Aqui mora a prova de que é possível criar a pensar no agora e no que está para chegar, tendo, na música, um idioma feito de emoções e que a todos toca: “O património de amanhã é aquele que criamos hoje. Por isso, criámos, em 2000, o Remix Ensemble, que é um agrupamento de música contemporânea. Depois, em 2006, criámos a Orquestra Barroca, com a finalidade de interpretar a música barroca numa perspetiva historicamente informada. E, por fim, e porque sempre foi uma ambição nossa ter um coro profissional, nasceu, em 2009, o Coro da Casa da Música.” Pensando também nessa criação do hábito e da necessidade, procurou-se instituir “um serviço educativo de largo espectro. Este serviço tem uma oferta específica e pensada no universo escolar, mas também para outras populações. Por exemplo, para populações com dificuldades financeiras e que não têm possibilidade de assistir a um concerto aqui, é a Casa da Música que vai ao encontro delas e das comunidades onde estão”.
O seu crescimento ouviu-se além fronteiras e permitiu que a música por aqui talhada pudesse ser saboreada por tantos mais: “A internacionalização só existe porque o trabalho é bem feito, em primeiro lugar, para os portugueses. Esse trabalho foi reconhecido lá fora. Por exemplo, o Remix Ensemble é o agrupamento mais internacional de sempre em Portugal. Nunca houve outro agrupamento que estivesse tantas vezes representado em tantas salas europeias. Podemos até dizer que o agrupamento Remix Ensemble foi o ponta de lança da Casa da Música. Foi ele que deu a conhecer a marca Casa da Música”. E a palavra passa, seja em que país for, trazendo novos rostos, novos ouvidos até à Casa da Música e à sala Suggia. Revestida com uma madeira vinda da Finlândia e que é aquela que melhor interage com o som, a sala deixa sobressair, nas suas paredes, os veios dourados. Independentemente da fila em que se esteja, com sala vazia ou cheia, tudo está pensado para que a experiência acústica seja inesquecível. “A sala Suggia é o ex-libris da Casa da Música. Tem uma acústica de excelência. O arquiteto pediu a ajuda de um dos melhores engenheiros da altura e foi ele que fez todos os trabalhos acústicos”, explica Paulo Ferreira, músico e responsável por guiar quem quer conhecer este refúgio onde a arte acontece, e que, de sorriso vestido e deixando ver a paixão pela música nas palavras e nos gestos, conduz com gosto e sem pressa.
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Fora da sala onde tanto acontece sobre o palco, o vidro duplo ondulado deixa ver, de várias perspetivas, a beleza do espaço e da arte que acolhe, impedindo que ruídos externos interfiram. Pelos corredores da casa onde mora a música, desvendam-se outras salas que, sendo diferentes, servem sempre a cultura. Numa delas, é a Orquestra Sinfónica que ensaia ao sabor da batuta do maestro. As paredes transparentes deixam assistir à subtileza dos gestos, mas protegem os seus autores dos espantos que não constam na partitura. “É um privilégio ser músico e fazer música. É uma vida de trabalho duro e constante até ao fim. Um processo de estudo sem fim. É preciso ter muita paixão para ser músico profissional, mas só assim é que vale a pena fazer as coisas. Por isso, assumo, a parte intelectual da missão que tenho, ligada à conceção dos programas, dá-me um enorme prazer, uma vez que também me permite conhecer e ver crescer os talentos do presente”, confessa António Jorge Pacheco.
A imponência não se perde, mas não pretende afastar. Cativando o olhar, abre as suas portas, convida a entrar e permite que tudo possa ser visto, sentido. A Casa da Música vê passar, pelo seu palco, o país e o mundo. Os sons encontram-se e a música torna-se embaixadora de uma arte sem fronteiras, nem lugares proibidos. Por isso, o futuro quer-se assim. Com a arte no meio das pessoas, a plateia cheia e ao som de aplausos.
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